alimentação/ nutrição

Que medidas podemos implementar para reduzir a pegada de carbono na indústria alimentar?

 

1.Redução do desperdício alimentar: A redução do desperdício alimentar é uma prioridade tanto para a União Europeia (UE) quanto para o governo de Portugal, considerando o impacto ambiental, social e económico associado ao desperdício de alimentos. Tanto a Estratégia do Prado ao Prato da UE, como as políticas nacionais portuguesas, reconhecem a necessidade urgente de abordar este problema para promover um sistema alimentar mais sustentável e eficiente. Assim, a UE definiu metas ambiciosas para a redução do desperdício alimentar estabelecendo como objetivo reduzir o desperdício alimentar em 50% até 2030, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.

Os Estados-Membros são incentivados a monitorizar e reportar os níveis de desperdício alimentar ao longo da cadeia alimentar. Isto inclui a fase de produção, distribuição, e consumo final, permitindo identificar pontos críticos onde o desperdício é maior. A UE propõe medidas para que alimentos em bom estado, mas fora dos padrões de venda, sejam doados ou reutilizados. Incentiva-se a criação de infraestruturas para facilitar a redistribuição de alimentos que, de outra forma, seriam desperdiçados. Outra grande linha de ação é a promoção da consciência pública sobre o impacto do desperdício alimentar, promovendo práticas de compra e consumo mais conscientes, como a compra de produtos locais e a gestão eficiente de prazos de validade. Portugal tem alinhado as suas políticas com as diretrizes europeias, implementando várias ações no combate ao desperdício alimentar para o qual foi criado o Plano Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, e a Rede de Combate ao Desperdício Alimentar. Também tem vindo a promover campanhas de sensibilização junto dos consumidores e das empresas para uma melhor gestão alimentar, como a campanha “Menos Desperdício, Mais Comida” (DGAV), com o objetivo de educar os cidadãos sobre a importância de evitar o desperdício em casa.

 

2.Transição para energias renováveis: Tanto a União Europeia (UE) quanto o Estado português têm promovido a transição para energias renováveis no setor alimentar como uma forma de reduzir a pegada de carbono e aumentar a sustentabilidade. O Pacto Ecológico Europeu estabelece metas claras para descarbonizar a produção alimentar, abrangendo várias etapas da cadeia de valor, incluindo o processamento, transporte, armazenamento e distribuição de alimentos. A UE apoia a substituição de sistemas baseados em combustíveis fósseis por energias renováveis, como solar e eólica, nas fábricas e empresas do setor alimentar, incentivando a substituição de gás natural e carvão por eletricidade de origem renovável. Na produção de alimentos, a transição para energias renováveis beneficia processos como aquecimento e irrigação, com o uso de painéis solares e bombas de calor. A agricultura de precisão, suportada por tecnologias energéticas limpas, permite uma gestão mais eficiente da água e dos nutrientes, resultando na redução do consumo energético e das emissões de gases com efeito de estufa. Além disso, a UE incentiva a utilização de resíduos agroalimentares para a produção de biogás e bioenergia, convertendo resíduos como estrume e restos vegetais em biogás através da digestão anaeróbia, o que gera energia renovável e reduz as emissões de metano. Portugal tem alinhado as suas políticas com as metas europeias, nomeadamente através do Plano Nacional de Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030), que promove a eletrificação dos processos agrícolas com o uso de energias renováveis. Com o apoio de fundos europeus, como o PRR, e programas como o Portugal 2020, o país tem incentivado as PMEs do setor alimentar a investir em energias renováveis, impulsionando a transição verde no setor agroalimentar.

 

3.Uso de embalagens sustentáveis: A transição para embalagens biodegradáveis, recicláveis ou reutilizáveis é uma prioridade crescente no contexto das metas ambientais estabelecidas pelo Pacto Ecológico Europeu. Este visa reduzir drasticamente o uso de plásticos de uso único promovendo o design ecológico e a economia circular. Um dos principais problemas associados às embalagens convencionais é a presença de bisfenóis, substâncias químicas usadas na produção de plásticos que podem migrar para os alimentos e bebidas, representando um risco para a saúde humana. Além disso, os microplásticos resultantes da decomposição de plásticos descartáveis acabam por poluir os ecossistemas terrestres e aquáticos, afetando a fauna e, indiretamente, a cadeia alimentar humana. A eliminação progressiva dos plásticos prejudiciais e não recicláveis é uma das metas principais da UE. No entanto, a transição para embalagens sustentáveis enfrenta desafios significativos. Materiais alternativos, como embalagens biodegradáveis à base de plantas, podem ser mais caros e menos acessíveis a pequenas e médias empresas. Além disso, o aumento da demanda por procura de papel ou de madeira levanta preocupações sobre a sobre-exploração dos recursos florestais, pressionando ainda mais os ecossistemas. A UE aborda esta questão, promovendo a gestão sustentável das florestas europeias e a inovação no design de materiais recicláveis e de baixo impacto ambiental. Por isso, é incentivado o desenvolvimento de soluções mais inovadoras, como embalagens compostáveis ou com base em resíduos agrícolas, para minimizar os impactos ambientais e, ao mesmo tempo, atender às necessidades do setor industrial. Além disso, está a promover a investigação e o desenvolvimento de novos materiais que possam substituir o plástico sem sobrecarregar outros recursos naturais, mantendo um foco equilibrado na sustentabilidade e na competitividade económica. Este movimento é complementado por iniciativas como o Plano de Ação para a Economia Circular, que estabelece medidas concretas para garantir que até 2030 todas as embalagens no mercado europeu sejam recicláveis ou reutilizáveis, enquanto incentiva a redução global de resíduos e a exploração de cadeias de fornecimento mais verdes e responsáveis.

 

 

Research Center in Biodiversity and Genetic Resources, InBIO Associate Lab, Campus de Vairão, University of Porto, 4485-661 Vairão, Portugal

BIOPOLIS Program in Genomics, Biodiversity and Land Planning, CIBIO, Campus de Vairão, 4485-661 Vairão, Portugal

Department of Geosciences, Environment and Landscape Planning, Faculty of Sciences, University of Porto, 4099-002 Porto, Portugal

  • A roda dos alimentos e a importância da dieta mediterrânea.

 

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